Sérgio Guerra (CEO do Grupo Orguel)
e eu (Andréa Guerra*) fomos convidados pela PWC para um café da manhã com Philip Kotler na suíte presidencial do Hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte, no dia 5 de setembro. Um evento tão inacessível para nós, simples mortais, que para falar a verdade não acreditei muito. Um dia antes, chega o e-mail de confirmação. Pensei: “Bom…. claro que vou”, mas ainda sem ter noção do que viria pela frente.
Chegamos ao hotel 30 minutos antes do horário marcado. Nesse dia, por sorte, o trânsito estava fluindo. Fomos recebidos pelas equipes da HSM, organizadora do encontro, e da PWC, os anfitriões. Enquanto aguardávamos, eis que surge Philip Kotler. Um senhor de 82 anos, muito disposto, autor de 52 livros, conhecido como o “Pai do Marketing” e considerado um dos seis mais influentes pensadores da área de negócios. Sentou-se conosco e iniciamos um ótimo bate-papo. Quis saber sobre nosso ramo de atuação; ele falou de suas experiências no Brasil (já esteve aqui 25 vezes) e que era sua primeira vez em BH. Falou também de hábitos de consumo de sua esposa Nancy, que não mais frequenta lojas e que faz suas compras on-line. Disse também que o Brasil, independentemente da política, é um país com 210 milhões de pessoas ávidas por consumir. Essa troca entre “velhos conhecidos” durou cerca de 20 minutos e em seguida fomos convidados a sentar à mesa com os demais convidados que chegavam aos poucos.
Éramos 11 pessoas desfrutando de um delicioso café, enquanto o professor Kotler ministrava seus conceitos sobre como criar, conquistar e dominar mercados. De acordo com Kotler, o marketing começou porque os departamentos de vendas precisavam de alguém que realizasse pesquisas com consumidores, descobrisse leads, preparasse folhetos e outros materiais promocionais. 
Ele sugere que as empresas expandam suas atividades digitais montando sites nos quais as pessoas se cadastrem para usar. Com isso, acumularão grandes bases de dados sobre os clientes; incentivem os consumidores a enviar e-mails com dúvidas, perguntas e ideias, criando assim relação de aprendizado com eles; estendam o marketing de conteúdo para clientes e prospects que autorizarem; monitorem as conversas nas mídias sociais para obter insights e detectar tendências.
Kotler sugere a mudança de comportamento dizendo que estratégias tradicionais de marketing proporcionam retornos cada vez menores, uma vez que a diferenciação de produtos está cada vez mais difícil de se conseguir. A internacionalização está oferecendo menos oportunidades, seja porque os bons mercados estão superlotados ou porque os mercados pobres não têm dinheiro. A redução de preço não funciona porque os concorrentes farão o mesmo. O aumento de preço também não, porque não há diferenciação suficiente para justificá-lo. A redução de custos eliminou quase toda a gordura, correndo o risco de atacar os músculos. Infelizmente, o número de produtos novos que fracassam é maior do que os que têm sucesso. Resta inovar, fazer diferente, pensar fora da caixa. Mas a inovação não é natural em uma empresa. É mais natural continuar fazendo a mesma coisa ou tentar aumentar a eficiência em vez de buscar coisas novas para fazer. Empresas como 3M, Harley-Davidson e BMW, que incorporam a inovação em seu DNA, são raras. Inovar não é mais uma opção. As empresas precisam criar internamente uma mentalidade de inovação.
O caso da Whirlpool é um bom exemplo: nos anos 90, o então CEO Dave Whitwam acreditava que a “linha branca” estava em um beco sem saída. Sua resposta foi inovação buscada não somente no departamento de P&D, mas em todos os lugares. Ofereceu treinamento em criatividade para as equipes, buscou insights dos consumidores, convocou clientes, parceiros e fornecedores para pensar de maneira inovadora. O que, por fim, reforça o pensamento de Peter Drucker, outro grande expert em negócios: uma empresa tem duas – e apenas duas – funções básicas: marketing e inovação, pois somente essas produzem resultado. Todo o resto são custos.
* Andréa Fagundes Guerra Lages é Assessora Corporativa de Comunicação do Grupo Orguel.